Estima-se que uma a cada dez mulheres no mundo sofram com a adenomiose, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A doença ocorre no útero e atinge, geralmente, mulheres entre 40 e 50 anos. No entanto, ela pode acometer pessoas mais jovens, no auge da capacidade reprodutiva.
Assintomática em cerca de 35% dos casos, a adenomiose, muitas vezes, vem acompanhada de outra doença bem conhecida: a endometriose. E apresenta sintomas parecidos, como sangramento menstrual abundante e prolongado e presença de dor pélvica durante a menstruação.
Assim como a endometriose, a adenomiose também está associada à infertilidade e pode ser, portanto, uma preocupação para mulheres que desejam ser mães.
Neste artigo vamos explicar como é essa relação e quais as alternativas que a Reprodução Assistida oferece às mulheres que convivem com essa doença. Confira!
O que é?
Antes de tudo, é preciso compreender o que é a adenomiose.
Para explicar, vamos entender um pouco sobre a anatomia do útero:
- A parede do útero é dividida em três partes: endométrio, miométrio e perimétrio.
- O endométrio é a camada que reveste o interior do útero e descama no período menstrual, quando parte dele é eliminado junto com o sangue. É ele que permite o ambiente ideal para o desenvolvimento de um embrião, por exemplo.
- Já o miométrio é a camada intermediária da parede, constituída de células e músculos, que fica entre o endométrio e o perimétrio.
- E o perimétrio é a camada mais externa, formada por tecido conjuntivo (células e fibras).
- Quando se observa a presença de células do endométrio dentro do miométrio, temos a chamada adenomiose.
A principal característica física dessa presença de tecido endometrial fora do lugar, no caso da adenomiose, é o aumento do volume do útero, que pode ser observado em um exame ginecológico.
E existem dois tipos:
- Adenomiose focal – que se apresenta apenas em pontos específicos, por meio dos adenomiomas
- Adenomiose difusa – que se apresenta ao longo de toda a musculatura do útero, de forma generalizada
A causa dessa “saída” do endométrio para outra cavidade, no entanto, não tem ainda uma resposta clara na literatura médica. Mas há suspeitas de que a doença pode surgir após danos ao revestimento do útero durante a gestação, parto ou alguma cirurgia. Outra suspeita é que haja correlação com a atividade hormonal dos ovários.
Vale pontuar que muitas pessoas confundem a adenomiose com a endometriose, que também é uma alteração no endométrio. No entanto, no caso da endometriose, as células do endométrio são encontradas fora da cavidade uterina, podendo acometer até o intestino.
Diagnóstico
Os principais exames de imagem utilizados para identificar o problema são: ultrassonografia transvaginal (US), ressonância magnética (RM) e histeroscopia. EsSe último é um procedimento que utiliza câmera para guiar uma sonda dentro do útero para retirada do tecido e posterior análise por meio de exame anatomopatológico.
A indicação para esses exames se dá após avaliação clínica da paciente. Geralmente, a suspeita de adenomiose surge após a paciente apresentar fluxo menstrual muito forte e longo e dores pélvicas, acompanhadas de pressão e inchaço abdominal.
Além disso, pacientes que já tenham diagnóstico de endometriose são pontos de atenção para o diagnóstico. Já que a prevalência de adenomiose em mulheres com endometriose é de cerca de 79%, segundo estudos.
Tratamento
A principal forma de tratar a adenomiose é com medicamentos hormonais, que vão bloquear temporariamente a menstruação. Aqui, estamos falando de anticoncepcionais, que podem ser adesivos, anéis ou pílulas. Há a ainda a possibilidade de usar dispositivos intrauterinos (DIU) de progesterona, que, geralmente, trazem resultados muito positivos no tratamento da doença.
Além disso, o médico também pode prescrever anti-inflamatórios, que vão ajudar a amenizar as dores pélvicas provocadas pela doença.
Em alguns casos mais graves, pode-se pedir a histerectomia, ou seja, retirada total do órgão.
Em todas as situações, o tratamento sempre deverá considerar a condição de saúde da paciente e a vontade de ser mãe. Cada caso será avaliado individualmente.
Adenomiose x fertilidade
Agora que já sabemos o que é a doença, como ela se manifesta e é diagnosticada e quais as formas de tratamento, podemos levantar a questão: qual a relação entre a adenomiose e a fertilidade feminina?
Como falamos no começo do artigo, a doença provoca diversas alterações no útero. E são essas alterações que podem dificultar a gravidez e levar à infertilidade.
Isso acontece porque a adenomiose altera o ambiente no útero e pode deixá-lo desfavorável para o encontro entre o óvulo e o espermatozóide, ou, mesmo após a fecundação, atrapalhar a fixação do embrião na parede do útero.
Além disso, o fato de os tratamentos para a doença envolverem o uso de anticoncepcionais também pode ser um fator a mais para comprometer o desejo de uma gravidez.
Reprodução Assistida
Algumas técnicas de Reprodução Assistida podem auxiliar na tentativa de gravidez para mulheres com adenomiose.
Uma delas é a Fertilização In Vitro (FIV), que permite a fecundação fora do útero (realizada em laboratório), aumentando as chances de gravidez.
No entanto, existem situações em que a FIV pode não ser a melhor estratégia, devido à dificuldade de implantação do embrião na parede do útero.
Nesse caso, considerando uma paciente portadora de adenomiose que ovula normalmente, pode-se optar pelo útero de substituição. Assim, a mulher pode utilizar seus próprios óvulos e espermatozóides do parceiro para, por meio de uma FIV, procurarem uma barriga solidária para gerar o embrião. Esse método é muito buscado por mulheres que, por algum motivo, não podem gerar um bebê no próprio ventre.
Antes de tudo, vale ressaltar que cada caso será avaliado individualmente pelo profissional de Reprodução Humana. A indicação de cada tratamento ou solução em RA vai depender das condições de saúde da paciente, da forma como a doença se apresenta e das alternativas disponíveis.
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