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Uma das grandes questões que permeiam a vida das pessoas que convivem com HIV é a possibilidade de ter filhos. O assunto “maternidade x HIV” é um dos temas alvo de tabu e desinformação que circunda o dia-a-dia dessas pessoas.

Segundo a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva – ASRM, um terço das mulheres em idade fértil, diagnosticadas com HIV, possuem desejo de ser mães.  É importante lembrar que a maternidade é possível para quem convive com o vírus. O que se deve pontuar, no entanto, são os fatores para evitar a transmissão para o bebê. E eles envolvem vários processos, desde a concepção até depois do nascimento da criança.

Não é simples, mas é possível. Existem, na Reprodução Assistida, algumas alternativas para cercar e proteger o embrião. E assim, permitir que a gravidez aconteça da forma mais segura possível.

 Mas antes de tudo, é preciso entender exatamente como o HIV funciona.

 HIV x Aids

Muita gente confunde, mas HIV e Aids são conceitos diferentes!

HIV é a sigla para denominar o vírus da imunodeficiência humana, responsável por atacar o sistema imunológico do ser humano. O vírus atinge, principalmente, os linfócitos T CD4+, alterando o DNA dessa célula, e fazendo cópias de si mesmo. A pessoa pode ser portadora do vírus do HIV e não ter Aids.

AIDS é a sigla usada para denominar a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. Segundo descreve a Unaids, trata-se de uma síndrome de infecções e doenças oportunistas que podem se desenvolver à medida que a imunossupressão aumenta durante a evolução da infecção pelo HIV.

Ou seja, o HIV é o causador da AIDS.

 Estima-se que existam cerca de 920 mil portadores de HIV no Brasil. Segundo dados do Ministério da Saúde registrados em 2020, desse grupo, 89% das pessoas foram diagnosticadas. Dessas, 77% fazem tratamento com antirretrovirais (medicamentos usados para impedir a progressão da infecção).  E o dado mais importante: 94% das pessoas em tratamento não transmitem o HIV por via sexual por terem atingido carga viral indetectável.

 HIV e gravidez

 Os dados do Ministério da Saúde também apontam que, de 2015 a 2019, houve redução de 22% na taxa de detecção de AIDS em menores de 5 anos. Passando de 2,4 casos para 1,9 casos a cada 100 mil habitantes. Essa taxa é utilizada como indicador para o monitoramento da transmissão vertical do HIV – que acontece durante a gestação, o parto ou a amamentação.

 E aqui, chegamos no ponto crucial para as portadoras de HIV que desejam ser mães. Evitar a transmissão vertical é a chave para que a maternidade aconteça de forma segura.

 Em um período de 10 anos, houve um aumento de 21,7% na taxa de detecção de HIV em gestantes. O Ministério da Saúde acredita que esse crescimento pode ser explicado, em parte, pela ampliação do diagnóstico no pré-natal e a melhoria da vigilância na prevenção da transmissão vertical do HIV.

 Segurança na concepção

 Dito isso, uma das formas de preservar o bebê e evitar que ele seja infectado pelo vírus é entender quando e como a concepção irá acontecer com segurança.

Atualmente, portadores de HIV têm a possibilidade de ter filhos de forma natural, observando alguns cuidados. Quando a carga viral de ambos é indetectável ou nula (considerando tratamento adequado para a doença, com administração de antirretrovirais), é possível ter segurança para que uma gravidez aconteça. O ideal é que o casal esteja há pelo menos seis meses com a carga indetectável.

Em casos em que apenas um dos parceiros é portador de HIV (homem ou mulher), com carga indetectável, as chances de transmissão, inclusive para o parceiro, também são baixíssimas.

Em todos os casos, há a possibilidade de utilizar a profilaxia pré-exposição (com um conjunto de medicamentos específicos), que deve ser iniciada 24 horas antes do ato sexual.

Considerando as situações acima, antes de iniciarem os procedimentos para uma gravidez, porém, é necessário que a mulher esteja vacinada contra Hepatite B, Pneumococo e Tétano (incluindo as doses de reforço, quando indicadas). Além disso, há a vacina contra Rubéola, que deve ser avaliada com cuidado pelos médicos, pois é feita com vírus vivo atenuado. A recomendação do Ministério da Saúde é aguardar ao menos três meses da vacinação para engravidar, pois os imunizantes aumentam a carga viral.

Se houver alguma outra doença infecciosa, é necessário tratar antes de iniciar a preparação para a gravidez.

 Reprodução Assistida

Em outros casos, a Reprodução Assistida também pode auxiliar, no sentido de evitar a transmissão do vírus.

A inseminação intrauterina (IIU) é uma opção tanto para casos em que apenas a mulher é portadora ou ambos. Como o sêmen é introduzido direto no óvulo, essa técnica irá impedir tanto a infecção do parceiro quanto a transferência de diferentes sorotipos.

Já a Fertilização In Vitro será uma alternativa viável para quando o homem é portador, incluindo casos em que a qualidade do sêmen não está legal.

Além disso, se houver diagnóstico de infertilidade, considerando as condições dos parceiros, o especialista irá orientar sobre a técnica que mais se adequa às necessidades do casal.

Da gestação ao nascimento

 A Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) recomenda acompanhamento da paciente por um grupo multidisciplinar de especialistas – que deve conter infectologista, ginecologista, urologista e especialista em reprodução humana – para analisar a carga viral da futura mãe e atestar a segurança para que a gravidez ocorra.

Então, com todos os cuidados tomados antes da concepção e, uma vez grávida, a paciente precisa se atentar para outras recomendações específicas, válidas especialmente para as gestantes portadoras de HIV:

·  Durante a gestação, é necessário seguir com a administração dos retrovirais adequados e manter o acompanhamento médico

·   No momento do nascimento, se a grávida tiver carga viral indetectável, o parto pode ser normal, a depender da recomendação obstétrica. Já para gestantes com carga viral detectável, a recomendação é que o parto seja feito por cesariana, precedida de 3 horas de AZT venoso

·   O bebê deve também receber tratamento com retrovirais assim que nascido e, infelizmente, não poderá ser amamentado com o leite materno

 Apesar de não haver 100% de garantia, se os pais seguirem corretamente todas as recomendações, desde a concepção até o nascimento da criança, as chances de o bebê ser infectado com o vírus caem para menos de 2%

 Confie no processo

Vale lembrar que a infecção por HIV, apesar de não ter cura, tem tratamento. Com os avanços da medicina, cada vez menos casos de evolução para Aids são detectados.

Sonhar com a maternidade/paternidade sendo portador de HIV não é um sonho impossível. Vale lembrar que, para realizá-lo, é muito importante seguir todas as orientações médicas passadas durante o tratamento. É preciso calma, paciência e, acima de tudo, muito amor.

Caso queira conversar sobre o tratamento, estou à disposição. Agende uma consulta comigo na Life Search.