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Reprodução assistida: nº de embriões congelados cresce 125% em 10 anos

Dra. Cláudia Navarro fala sobre o assunto no papo com especialista

Em uma memorável noite de 1978, a ciência apresentou ao mundo um de seus mais esperançosos milagres: o nascimento de Louise Brown. Ela foi a primeira pessoa concebida por meio da Fertilização In Vitro (FIV). Esse evento histórico não somente marcou um triunfo da engenhosidade humana. Também acendeu um farol de esperança para milhões de pessoas que enfrentam a infertilidade. Anos mais tarde, o Brasil celebrou a chegada de Anna Paula Caldeira, a pioneira bebê de proveta da América Latina.

Desde aqueles primeiros dias, a reprodução assistida evoluiu incessantemente. O termo “bebê de proveta” agora evoca um amplo espectro de técnicas avançadas, expandindo as possibilidades de formação da família. Técnicas como a inseminação intrauterina e a gestação de substituição têm aberto novos caminhos para uma diversidade de estruturas familiares — incluindo casais LGBTQIA+, mulheres solteiras e outros — alcançar o sonho da parentalidade.

Embriões congelados

Um dos avanços mais notáveis nesse campo é o congelamento de embriões e de óvulos. Esta é uma revolução poderosa em uma era onde muitos optam por adiar a maternidade. No Brasil, os números são expressivos. O total de embriões congelados aumentou em 125,52% entre 2014 e 2023, saltando de 47.812 para 107.830 procedimentos anuais. Os dados são do Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio) da Anvisa. Esse progresso não apenas oferece uma liberdade inédita, mas permite que a jornada para a parentalidade se ajuste aos sonhos e necessidades individuais. Só nos últimos quatro anos, entre 2020 e 2023, foram congelados mais de 390 mil embriões.

Reforma do Código Civil

A atualização da legislação no país também reflete um compromisso com práticas de reprodução assistida mais seguras, inclusivas e acessíveis. A reforma do Código Civil, encabeçada por uma comissão de 38 juristas – e, com votação prevista para a primeira semana de abril – propõe reconhecer a multiplicidade de estruturas familiares e estabelecer regulamentações inovadoras na área. Isso inclui, por exemplo, desde o congelamento de embriões até a gestação por substituição, evidenciando um esforço legislativo para se alinhar às evoluções familiares e tecnológicas contemporâneas.

Assim, contemplamos um futuro repleto de possibilidades, inspirados pelo passado e pelo presente da medicina reprodutiva. Cada avanço, cada história de sucesso é, pois, um testemunho do poder da ciência em transformar vidas, oferecendo novas esperanças e possibilidades a todos que sonham em formar uma família. A reprodução assistida, portanto, não é apenas uma conquista científica; é uma celebração da diversidade, da inclusão e da capacidade humana de superar obstáculos.

Olhando para frente, a promessa de novas descobertas e inovações continua a inspirar. Esse é um convite não apenas para refletir sobre o impacto da reprodução assistida, mas também para apoiar fervorosamente a pesquisa e a inovação que moldam e moldarão o futuro da formação de milhares de famílias. 

Cláudia Navarro é especialista em reprodução assistida e cedeu este artigo ao Papo no Consultório. Graduada em Medicina pela UFMG, titulou-se mestre e doutora em medicina (obstetrícia e ginecologia) pela instituição federal. E, durante muitos anos, trabalhou ao lado do professor Aroldo Fernando Camargos, desde a fundação do Laboratório de Reprodução Humana do Hospital das Clínicas da UFMG – HC. Atualmente, a médica atua na área de reprodução humana na Life Search, trabalhando principalmente os seguintes temas: infertilidade, reprodução assistida, doação e congelamento de gametas.